quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Professores nativos vs. professores brasileiros

Observando o mercado, alguns alunos e suas expectativas, notei que os olhos de alguns donos de escola ou mesmo dos alunos brilham só de pensar em ter aulas com um professor nativo, ou alguém que morou algum tempo fora, geralmente de au pair. Enfim, daí surge a questão: Será que eles são/serão melhores professores?

A primeira pergunta a ser feita deveria ser: eles são professores? Sim, pois basta pensar em si mesmo como falante de português: você saberia transmitir todos os conhecimentos necessários para o domínio da língua para um estrangeiro? Ou mesmo, saberia explicar português para um brasileiro?

Pois chegamos a resposta, um professor nativo de língua estrangeira deve, antes de tudo, ser um professor, conhecer a língua e saber explicá-la de forma clara e inteligível, mesmo que em seu idioma nativo. Contudo, não é isso que podemos ver em várias escolas de idiomas (leia-se as escolas menores). Muitas vezes, o professor é algum brasileiro que morou fora do país por um tempo e ensina o idioma estrangeiro, ser ter sequer estudado para ser professor de língua. Idem para o professor nativo. O que decorre daí são vários problemas de dúvidas não solucionadas e até um possível choque cultural.

Citando um exemplo de um problema comum: é difícil para um alemão explicar o que são casos para um falante de português. O assunto em questão é, na verdade, difícil de explicar até mesmo para um professor brasileiro, que teve primeiro que estudar o conceito de caso e encontrar uma forma própria de entendê-lo para depois retransmiti-lo. Assim, podemos verificar os seguintes problemas com professores nativos, que não estudaram para ser professores (ponto muito importante):

  • Eles podem não entender as dúvidas dos alunos, caso não conheçam a fundo a língua materna deles;
  • Por não entenderem os alunos, podem ser rígidos demais, o que desestimula o aprendizado;
  • Criam pressupostos que não existem, visto as línguas serem muito diferentes, isto é, pensa que o aluno deve saber algo intuitivamente, mas que não faz sentido em sua língua materna;
  • Não dominam formas de transmitir o conhecimento e, no caso de migrantes que moram há muito tempo no país, prendem-se a velhas formas de aprendizado.

Há também aqueles que moraram um bom tempo no exterior e se aventuram a ensinar a língua, mas também não estudaram para ser professores. Nesse caso deve-se atentar para o fato de que:

  • Eles, na maior parte das vezes, não aprenderam a norma culta da língua;
  • Também não dominam formas de ensinar;
  • Não possuem o conhecimento adequado, caso o aluno queira atingir altos níveis de proficiência.

Mas devemos citar também as vantagens de tais "professores", tais como:

  • Transmitir uma vivência cultural do país estrangeiro;
  • Estar mais acostumado com o falar coloquial (gírias, etc.)
  • Entender a cultura e o modo como se dão as relações inter-pessoais no país estrangeiro;
  • No caso de professores nativos, ter uma pronúncia com menos sotaque brasileiro (embora possa possuir uma pronúncia dialetal um tanto confusa, que se desvia da norma padrão).

Entretanto, é necessário valorizar o profissional que realmente estudou para ser professor da língua, o qual nem sempre possui essa vivência no país estrangeiro. Contudo, se for um profissional bem preparado, ele:

  • será alguém bem qualificado para tirar quaisquer dúvidas do aluno e entender a origem dessas dúvidas, especialmente por ter um conhecimento aprofundado da língua materna do aluno;
  • geralmente, terá um conhecimento da cultura erudita construída através da língua alvo, ou seja, sua literatura, arte, história, etc.
  • será um professor de verdade, alguém preparado não só com os conhecimentos da língua, mas também com os métodos para transmiti-la.
Finalizando esse post que já se alongou bastante, gostaria de ressaltar que não importa tanto a experiência no exterior ou o fato de o professor ser ou não falante nativo da língua. O que realmente importa é que ele seja um professor, instruído e capacitado para isso!

Nenhum comentário:

Postar um comentário