quarta-feira, 23 de março de 2011

Por que demoraram tanto? - Bryan Appleyard


8 de abril de 2007

Trinta anos após sua morte, Tolkien produziu um romance novo em folha - com uma pequena ajuda de seu filho. Esse grande mito pode trazer os leitores de volta para a Terra-média?

Esse é, como Adam, neto de Tolkien, coloca, os "versão do diretor" de Os Filhos de Húrin – embora eu não esteja certo se o diretor em questão é o pai ou o filho. Porém, o caso é como o livro levantou pontos para uma das estranhezas mais reveladoras da obra de Tolkien. Ele não é, fundamentalmente, um romancista; como um Wilson sugeriu, não é realmente um escritor. A tarefa que ele se propôs era criar o
mundo, Terra-média, que precedeu o nosso. Ele fez isso através de mapas, etimologias, espécies inventadas – principalmente elfos e orcs – e genealogias vastas e frequentemente indecifráveis. Dessa montanha de invenções curiosas, surgiram os livros. Mas eles eram sempre somente fragmentos de um todo. Ao ler Tolkien, estamos perpetuamente conscientes da vasta história de fundo, que provavelmente nunca será completamente conhecida, por que, como um todo, ela residia somente na cabeça de Tolkien. Os romances, em outras palavras, eram produtos secundários de um projeto muito maior.

A acusação de Wilson de que Tolkien não era realmente um escritor irá horrorizar milhões, mas ele tinha uma razão. O estilo de Tolkien - na verdade, toda sua abordagem – era derivada de poemas narrativos ingleses como Beowulf e Gawain e o Cavaleiro Verde, das sagas nórdicas e, especialmente no caso desse último livro, de Wagner. Esses são contos de heroísmo e magia, de valores absolutos, de coisas extremas. A abordagem óbvia para um escritor contemporâneo que deseja recuperar essas formas é atualizar seu estilo e, talvez, colocá-las em um contexto contemporâneo. Isso definitivamente não é o que Tolkien se pôs a fazer. Ele quis recriar seu mundo e sua linguagem, somente um pouco ajustados aos ouvidos modernos. Uma frase do primeiro parágrafo de Os Filhos de Húrin expressa a questão: "Sua filha Gloreghel casou-se com Haldir, filho de Halmir, senhor dos homens de Brethil; e, na mesma festa, seu filho Galdor, o Alto, casou-se com Hareth, a filha de Halmir."


Isso é uma escrita arcaizante, como uma espécie de vingança.

A mente moderna está claramente sendo arrastada pelo cangote para longe de sua zona de conforto literário. O apontamento de Wilson era que, tendo feito esse gesto, o interesse de Tolkien em estilo terminou. Ele o compara a Iris Murdoch: "Realmente, Murdoch e Tolkien têm isso em comum, embora eles dificilmente possam ser diferentes em outros aspectos: como Murdoch, Tolkien não se preocupa de maneira nenhuma com 'estilo', apenas sobrecarregando, quando O Senhor dos Anéis está em questão, com sua
prosa inferior a de William Morris.

Isso é precisamente correto. Anos atrás, eu desisti de O Senhor dos Anéis e d'O Hobbit precisamente porque a prosa parecia completamente superficial, sem nenhuma das tendências mais profundas que fazem uma escrita boa ou excelente. Minha fome infantil por fantasia foi satisfeita pela imaginação, elegância e poder da maravilhosa sequencia de romances The Once and Future King de T. H. White. Depois disso, Tolkien parecia banal e frequentemente afetado, de um modo arrogante e presunçoso. Eu era inteiramente simpático com a observação de Hugo Dyson, ao ouvir a leitura de Tolkien de O Senhor dos Anéis: "Não outro maldito elfo". Isso dito, Os Filhos de Húrin é uma outra empreitada enfadonha. Eu não desisti dele porque um modo intenso e muito adulto o salva das falhas de seus outros trabalhos. A prosa é ainda mais gestual que profunda, mas há um sentimento real de alta seriedade. Não é uma história de crianças, como O Hobbit, e é muito mais sombrio que O Senhor dos Anéis. Esse é o modo wagneriano de Tolkien. De fato, é possível dizer que esse é o verdadeiro Tolkien. A popularidade de seus outros trabalhos podem bem tê-lo distraído da seriedade e intensidade de sua visão da Terra-média. Ele era um católico devoto, e apesar de o cristianismo não estar explicitamente presente, há um desdobramento dramático de história e salvação através do seu trabalho. Esse é o homem que significa o que diz. Mas, por quê? O que tudo isso significa? A primeira e mais óbvia pergunta a fazer é sobre o contexto. A Terra-média nasceu nos dias escuros da Primeira Guerra Mundial, e O Senhor dos Anéis foi escrito durante a Segunda e o período que se seguiu.
Seria absurdo ver os senhores do mal Morgoth e Sauron como o Kaiser e Hitler; de fato, Tolkien sempre negou qualquer intenção alegórica. Apesar disso, seus sonhos com a antiguidade, batalhas épicas entre o bem e o mal parecem um modo de tentar atribuir um sentido para a carnificina global e sem sentido do século XX.


Há ainda um outro entrelaçamento a isso. Tolkien é visto convencionalmente como uma figura anti-modernista. Ele tinha aversão a tecnologia, e sua busca pelo antigo parece ecoar aquela dos Pré-Rafaelitas e do fantasista gótico Augustus Pugin, arquiteto do Palácio de Westminster.

Isso pode ser visto como escapismo, uma rejeição do engajamento modernista com o presente e o futuro, mas eu não estou certo de que isso seja muito justo. Compare, por exemplo, o projeto de Tolkien com dois dos maiores trabalhos da literatura modernista. O Ulisses de James Joyce conta a história da vida comum de um dia em Dublim, como uma recapitulação da lenda do herói grego viajante. The Waste Land de T. S. Eliot é um panorama mitológico do presente, onde tudo é assombrado pelo espectro do colapso mental. Em outras palavras, embora completamente diferentes (e artistas muito maiores), esses escritores estavam fazendo algo similar a Tolkien: tentando lançar uma luz sobre o presente através da adaptação de contos e mitologias do passado. O projeto de Tolkien era, realmente, mais do que simples escapismo – seu passado era, no fim das contas, inteiramente sua própria invenção – mas isso não diminui seu significado como sintoma da condição moderna.

De fato, em vista das vendas e do impacto cultural global dos contos da Terra-média de Tolkien, seria insano tentar diminuir sua significância. Estes livros tem um pleno apelo aos sentidos contemporâneos. Há uma necessidade, não de fantasia, exatamente – ambos, Christopher e Lee concordam que eles não querem que Tolkien seja confortavelmente confinado ao gênero Fantasia – mas por histórias que pareçam melhores, mais grandiosas, maiores e mais estranhas que as narrativas insípidas do mero presente. Quando O Senhor dos Anéis estava no meio de sua ascensão nas listas de bestsellers globais, o jogo de tabuleiro Dungeons & Dragons, vendido pela primeira vez em 1974, estava varrendo os quartos fétidos de estudantes. Hoje, seriam os jogos de computador igualmente fantásticos como World of Warcraft. A mágica, em uma era de descrença, resiste em curiosas frestas da contemporaneidade. Além disso, tanto os filmes Star Wars quanto os livros Harry Potter confirmam o anseio contemporâneo pela narrativa maravilhosa e mágica. Glaurung, o dragão, soa notavelmente como Jabba, o Hutt, e a espada falante de Túrin poderia pertencer a Harry.


Parece haver uma necessidade, através de todas as culturas modernas, da história que transcende tempo e espaço, que, escapando das particularidades e compromissos com o presente, dirige-se às questões fundamentais da vida. Se o afetado Tolkien levanta seus olhos para além do mundano, com sua impetuosa prosa gestual e mitologias selvagens, então quem sou eu para reclamar? De qualquer forma, como um livro, não como um fragmento de um projeto, Os Filhos de Húrin, em sua própria maluquice mas também seu modo terrivelmente inspirador, funciona. Seis mil anos antes de Bilbo Bolseiro encontrar o anel de Sauron, Túrin e Nienor geraram Húrin, chamado de o Imperturbável, senhor de Dor-lómin, marido de Morwen. Túrin travou guerra contra Morgoth e matou Glaurung, o primeiro dos dragões de Morgoth. Mas ... Não, acho melhor não continuar. A ação de Os Filhos de Húrin de Tolkien é de emocionar e intrigar milhões. Ele teve uma impressão inicial de 500.000 exemplares no mundo todo, mas isso será só o começo. O Senhor dos Anéis de Tolkien vendeu 100 milhões de cópias – 50 milhões desde o lançamento dos filmes de Peter Jackson. Outras 50 milhões de cópias de outros livros do autor, O Hobbit em primeiro lugar, também foram vendidas. É seguro dizer que o "grande conto" de Túrin está para se tornar um mito global.

O livro foi recuperado pelo filho de Tolkien, Christopher, a partir de variados escritos de seu pai. Ele foi começado em 1918, mas nunca formalmente organizado em um romance. Christopher fez isso agora, usando, como é dito, apenas as palavras de seu pai, com poucas mudanças gramaticais. Teoricamente, isso levanta a possibilidade de recuperação de outros grandes contos desse período – A Queda de Gondolin, Beren e Lúthien foram sugeridos, e A Balada de Leithian – mas, na prática, nenhum destes parecem estar no estado completo, embora disperso, de Os Filhos de Húrin. Esse será provavelmente o último conto acabado de Tolkien.

A escolha do tempo certo é significativa. Os filmes fundamentalmente mudaram o estatuto dos livros. Como Alan Lee, o ilustrador de Os Filhos de Húrin e ganhador do Oscar de diretor de arte dos três filmes, contou-me, há algo literal sobre o filme. Ao projetar para Jackson, ele se encontrou tendo que dar forma a cada detalhe.

Considerando o que Tolkien pode esboçar em uma página de prosa, a audiência do cinema moderno quer a coisa toda na tela. Além disso, uma geração de fãs de O Senhor dos Anéis foi criada – mas não necessariamente de leitores de Tolkien. A ênfase mudou-se dos livros.


Isso parece, pelo menos em parte, explicar a escolha da época de lançamento de Os Filhos de Húrin. Christopher falou pela primeira vez sobre o livro a David Brawn, diretor de publicações da HarperCollins, cerca de dois anos atrás, quando a agitação do filme estava pronta para acabar. Isso era, acredita Brawn, uma clara tentativa de tentar trazer de volta o trabalho de seu pai para a página impressa. E, realmente, para Lee, essa foi uma chance de escapar do literalismo dos filmes e voltar para seu estilo sentimental, sugestivo e típico dos contos de fadas ingleses.

Entretanto, uma nova obra póstuma de Tolkien é um risco. Em 1977, a publicação de O Silmarillion foi criticada porque incluía intercalações de Christopher. A exortação era de que os bens estavam extrapolando o legado. Ele foi difamado como "a venda de um milhão". A insinuação era que Tolkien estava se tornando uma marca em vez de um autor, um processo certamente acelerado pelos filmes. Por outro lado, esse é o trabalho dos agentes literários, encontrar bom material não publicado. Se Christopher não fez, realmente, mais do que colocar junto uma história coerente a partir da prosa de seu pai, eu não vejo muito do problema. Ele fez apenas o que seu pai pretendia.







Os Filhos de Húrin de J. R. R. Tolkien foi publicado em 16 de abril (HarperCollins £18.99)

www.bryanappleyard.com

Fonte: (http://entertainment.timesonline.co.uk/tol/arts_and_entertainment/books/article1613657.ece)

terça-feira, 22 de março de 2011

Ao Final da Busca, Vitória - por W. H. Auden

22 de Janeiro de 1956
Resenha do livro O Retorno do Rei.

Em "O Retorno do Rei", Frodo Bolseiro cumpre sua busca, o reino de Sauro é terminado para sempre, a Terceira Era está acabada e a trilogia de J. R. R. Tolkien, "O Senhor dos Anéis", completa. Eu dificilmente me lembro de um livro sobre o qual eu tivesse argumentos tão veementes. Ninguém parece ter uma opinião moderada: ou o consideram uma obra prima do gênero, como eu; ou não podem suportá-lo, e, entre os hostis há alguns, devo confessar, por cujas opiniões literárias eu tenho grande respeito. Uns poucos desses devem ter passado das primeiras quarenta páginas do primeiro capítulo do primeiro volume, no qual a vida diária dos hobbits é descrita; essas são uma comédia leve e comédia leve não é o forte do Sr. Tolkien. Na maioria dos casos, porém, a objeção vai bem mais fundo. Eu só posso supor que algumas pessoas, por princípio, desaprovam as Buscas Heróicas e os Mundos Imaginários, que, eles sentem, não podem ser outra coisa alé de uma leve leitura "escapista". Para eles é muito chocante que um homem como o Sr. Tolkien, o filólogo de língua inglesa que leciona em Oxford, deva desperdiçar esforços tão incríveis em um gênero que, em sua opinião, é frívolo por definição.

A dificuldade em apresentar um retrato completo da realidade reside na lacuna entre a realidade subjetiva, a experiência do homem de sua própria existência, e a realidade objetiva, sua experiência da vida de outros e do mundo. Vida, como eu a percebo em minha própria pessoa, é primariamente uma contínua sucessão de escolhas entre alternativas, feitas para propósitos de curto e longo prazos; quer dizer, as ações que eu realizo, são menos significativas para mim do que os conflitos de motivos, tentações, dúvidas, nos quais elas se originaram. Além disso, minha experiência subjetiva do tempo não é a de um movimento cíclico alheio a mim, mas de uma história irreversível de momentos únicos, que são feitos por minhas decisões.

Para objetificar essa experiência, a imagem natural é a da jornada com um propósito, cercada por acasos e obstáculos perigosos, alguns apenas difíceis, outros ativamente hostis. Mas quando eu observo meus semelhantes, tal imagem parece falsa. Eu posso ver, por exemplo que apenas os ricos e aqueles de férias podem realizar jornada; a maioria dos homens tem que trabalhar em um único lugar a maior parte do tempo.

Eu não posso observá-los fazendo escolhas, somente as atitudes que eles tomam e, se eu conheço bem alguém, eu posso predizer corretamente como ele ira reagir em uma dada situação. Eu observo, tudo muito frequentemente, homens em conflito uns com os outros, guerras e ódio, mas raramente, se muito, uma divisão nítida entre o Bem de um lado e o Mal de outro, embora eu também possa observar que ambos os lados usualmente se descrevam como tal. Se, então, eu tentasse descrever o que eu vejo, como se eu fosse uma camera impessoal, eu não produziria uma Busca, mas um documento "naturalista".

Ambos os extremos, com efeito, falsificam a vida. Existem Buscas medievais que merecem a crítica feita por Erich Auerbach em seu livro "Mímesis":

"O mundo das provas de cavalaria é um mundo de aventura. Ele contém apenas uma série praticamente ininterrupta de aventuras; mais especificamente, não contém nada além dos requisitos da aventura... Com exceção de feitos de armas e de amor, nada acontece no mundo cortês - e até mesmo esses dois são de um tipo especial: eles não eventos ou sentimentos que podem se afastar por um tempo; eles estão permanentemente ligados com a figura do cavaleiro perfeito, eles são parte de sua definição, de modo que ele não pode, por um momento, ficar sem aventuras em armas, nem por um momento sem uma relação amorosa... Suas proezas são feitos de armas, não a "guerra", pois eles são feitos alcançados ao acaso, que não se encaixam em qualquer padrão intencionalmente político.

E há "suspenses" contemporâneos nos quais a identificação do herói e do vilão com políticos da mesma época é desanimadoramente óbvia. Por outro lado, há romances naturalistas nos quais as personagens são meros fantoches do Destino, ou antes, do autor que, a partir de um misteriosos ponto de liberdade, contempla os trabalhos do Destino.

Se, como eu acredito, o Sr. Tolkien teve sucesso maior que qualquer escritor anterior em seu gênero no uso das propriedades tradicionais da Busca - a jornada heroica, o objeto mágico, o conflito entre o Bem e o Mal -, satisfazendo, ao mesmo tempo, nosso senso de realidade histórica e social; deveria ser possível mostrar como ele teve sucesso. A princípio, nenhum escritor anterior, que eu saiba, criou um mundo imaginário e uma história fictícia em tantos detalhes. Quando o leitor termina a trilogia, incluindo os apêndices de seu volume final, ele sabe tanto sobre a Terra-média de Tolkien, sua paisagem, sua fauna e flora, seus povos, suas línguas, sua história, seus hábitos culturais, quanto, fora de seu campo especializado, ele sabe sobre o mundo real.

O mundo do Sr. Tolkien pode não ser o mesmo que o nosso: ele inclui, por exemplo, elfos, seres que conhecem o bem e o mal, mas não decaíram, e, apesar de não serem fisicamente indestrutíveis, não sofrem morte natural. Ele é afligido por Sauron, uma encarnação do mal absoluto, e criaturas como Laracna, a aranha monstro, ou os orcs que são corrompidos além da esperança de redenção. Mas esse é um mundo de leis inteligíveis, não de mero desejo; o sentido de credibilidade do leitor não é nunca violado.

Até mesmo o Um Anel, a arma física e psicológica que corrompe qualquer um que ouse utilizá-la, é uma hipótese perfeitamente plausível, a partir da qual segue logicamente a obrigação política de destruí-lo, que motiva a busca de Frodo.

Apresentar o conflito entre o Bem e o Mal como uma guerra da qual o lado bom é definitivamente vitorioso é uma empreitada delicada. Nossa experiência histórica nos conta que o poder físico e, em larga medida, o poder mental são moralmente neutros e efetivamente reais: guerras são vencidas pelo lado mais forte, justa ou injustamente. Ao mesmo tempo, a maior parte de nós acredita que a essência do bem é amor e liberdade, de modo que o Bem não pode se impor pela força sem deixar de ser bom.

As batalhas no Apocalipse e no "Paraíso Perdido", por exemplo, são difíceis de engulir, por causa da associação de duas noções incompatíveis de deidade, de um Deus do Amor que cria seres livres que podem rejeitar seu amor e a de um Deus de Poder Absoluto, contra quem ninguém pode se opor. O Sr. Tolkien não é tão grande escritor quanto Milton, mas nesse caso ele teve sucesso onde Milton falhou. Como leitores dos volumes precedentes irão lembrar, a situação na Guerra do Anel é a seguinte: o Acaso, ou a Providência, colocou o Anel nas mãos dos representantes do Bem, Elrond, Gandalf, Aragorn. Usando-o, eles poderiam destruir Sauron, a incarnação do mal, mas ao custo de tornarem-se seu sucessor. Se Sauron recupera o Anel, sua vitória será imediata e completa, mas, mesmo sem ele, seu poder é maior do que qualquer um que seus inimigos possam colocar contra ele, de modo que, a menos que Frodo tenha sucesso em destruir o Anel, Sauron deve vencer.

Isto é, o Mal tem toda a vantagem, exceto uma: ele é inferior em imaginação. O Bem pode imaginar a possibilidade de se tornar mal - portanto a recusa de Gandalf e Aragorn a usar o Anel - mas o Mal, propositalmente escolhido, não pode mais imaginar algo além de si próprio. Sauron não pode imaginar qualquer motivo exceto a vontade de dominação e medo, de modo que, quando ele descobre que seus inimigos têm o Anel, o pensamento que eles podem tentar destruí-lo nunca entra pela sua cabeça, e seu olho é mantido voltado para Gondor e longe de Mordor e da Montanha da Perdição.

Ademais, seu culto ao poder é acompanhado, como tem que ser, pelo ódio e a ânsia por crueldade: ao saber da tentativa de Saruman de roubar o Anel para si mesmo, Sauron fica tão absorto com raiva que, por dois dias cruciais, ele não presta atenção aos relatos dos espiões das escadas de Cirith Ungol; e quando Pippin é tolo o suficiente para olhar na Palantír de Orthanc, Sauron poderia ter descoberto tudo sobre a Demanda. Seu desejo de capturar Pippin e arrancar a verdade dele o faz perder sua preciosa oportunidade.

As exigências feitas sobre o poder do escritor em um épico tão longo quanto "O Senhor dos Anéis" são enormes e aumantam enquanto o conto se desenvolve - as batalhas precisam se tornar mais espetaculares, as situações mais críticas, as aventuras mais emocionantes - mas eu só posso dizer que o Sr. Tolkien se mostrou a altura delas. Nos apêndices, os leitores irão ter vislumbres aterrorizantes da Primeira e da Segunda Eras. As lendas dessas eras, eu suponho, já estão escritas e eu espero que, tão logo os editores tenham visto "O Senhor dos Anéis" em edição de bolso, eles não manterão o crescente exército de fãs do Sr. Tolkien esperando por muito tempo.

O Sr. Auden é autor de "Nones" e "The Shield of Achilles" entre outros volumes de poesia.