terça-feira, 17 de abril de 2012

Franz Kafka


Franz Kafka (1883 - 1924) é reconhecidamente um dos maiores autores de língua alemã. Dentre seus textos mais conhecidos está A metamorfose (Die Verwandlung - 1915), em que o protagonista Gregor Samsa acorda, em um determinado dia, transformado em um inseto gigante. Seus textos, que incursionam por elementos fantásticos e maravilhosos, são geralmente interpretados como uma crítica à sua época, seus costumes e sua burocracia; mas há também quem os leia de modo cômico. Os textos apresentados abaixo foram retirados do maravilhoso sítio Zeno.org e se encontram entre os últimos escritos do autor.

Kleine Fabel
»Ach«, sagte die Maus, »die Welt wird enger mit jedem Tag. Zuerst war sie so breit, daß ich Angst hatte, ich lief weiter und war glücklich, daß ich endlich rechts und links in der Ferne Mauern sah, aber diese langen Mauern eilen so schnell aufeinander zu, daß ich schon im letzten Zimmer bin, und dort im Winkel steht die Falle, in die ich laufe.« – »Du mußt nur die Laufrichtung ändern«, sagte die Katze und fraß sie. 




Pequena Fábula
    - Ah - disse o rato -, o mundo se torna mais estreito a cada dia. Primeiro ele era tão grande, que eu tinha medo, corria continuamente e era feliz quando eu finalmente via à esquerda e à direita aquelas paredes distantes. Mas essas paredes compridas se apressaram tanto umas contra as outras, que eu já estou no último cômodo e lá no canto está a armadilha, para a qual eu corro.
   - Você tem apenas que mudar a direção da corrida - disse o gato e o devorou.

***

Von den Gleichnissen 
Viele beklagen sich, daß die Worte der Weisen immer wieder nur Gleichnisse seien, aber unverwendbar im täglichen Leben, und nur dieses allein haben wir. Wenn der Weise sagt: »Gehe hinüber«, so meint er nicht, daß man auf die andere Seite hinübergehen solle, was man immerhin noch leisten könnte, wenn das Ergebnis des Weges wert wäre, sondern er meint irgendein sagenhaftes Drüben, etwas, das wir nicht kennen, das auch von ihm nicht näher zu bezeichnen ist und das uns also hier gar nichts helfen kann. Alle diese Gleichnisse wollen eigentlich nur sagen, daß das Unfaßbare unfaßbar ist, und das haben wir gewußt. Aber das, womit wir uns jeden Tag abmühen, sind andere Dinge. 
Darauf sagte einer: »Warum wehrt ihr euch? Würdet ihr den Gleichnissen folgen, dann wäret ihr selbst Gleichnisse geworden und damit schon der täglichen Mühe frei.« 
Ein anderer sagte: »Ich wette, daß auch das ein Gleichnis ist.« Der erste sagte: »Du hast gewonnen.« 
Der zweite sagte: »Aber leider nur im Gleichnis.« 
Der erste sagte: »Nein, in Wirklichkeit; im Gleichnis hast du verloren.«


Das Parábolas
    Muitos se queixam, que as palavras dos sábios sempre são apenas parábolas, mas inaplicáveis na vida do dia-a-dia, e só as temos sozinhas. Quando o sábio diz: "Suba", então ele não pensa que se deva ir para  cima, o que afinal se poderia realizar sempre, quando o resultado do caminho fosse valioso, ao invés, ele pensa em algo fabuloso lá em cima, algo que nós não conhecemos, que também não é mais fácil de descrever para ele e que nós aqui, portanto, não podemos ajudar em nada. Todas essas parábolas querem apenas dizer, na verdade, que o incompreensível, incompreensível é, e isso nós já sabemos. Mas aquilo, para o que nós nos esforçamos todo dia, são outras coisas.
   Sobre isso um diz: "Por que vocês lutam? Se seguissem as parábolas, então seriam vocês mesmos transformados em parábolas e com isso já seriam livres do esforço diário."
     Um outro disse: "Eu aposto, que isso também é uma parábola." O primeiro disse: "Você venceu."
     O segundo disse: "Mas infelizmente, apenas na parábola."
     O primeiro disse: "Não, na realidade; na parábola você perdeu."

segunda-feira, 16 de abril de 2012

O que precisa ser dito - Günter Grass


Saiu como notícia na Deutsche Welle um certo "incômodo" - para abusar do eufemismo - provocado pelo poema Was gesagt werden muss, publicado no jornal Süddeutsche, que tematiza a tensão entre Israel e Irã, bem como o fato de que a Alemanha tem fornecido armas para Israel. Segue minha tentativa de tradução do poema, publicado em 4 de abril de 2012:

O que precisa ser dito

Por que silencio, oculto por tanto tempo,
o que está aberto e sobre o tabuleiro
é ensaiado e em cujo fim, quando sobreviventes
seremos apenas notas ao fim da página.

É o direito declarado sobre a primeira jogada,
que subjugaria com um grito
e a um organizado júbilo poderia
varrer o curvado povo iraniano,
porque nesse ramo de poder supõe-se
a construção de uma bomba atômica.

Mas por que me proíbo,
de nomear aquela outra terra,
na qual há anos - embora secretamente -
um crescente potencial nuclear dispõe-se
tão fora de controle, pois nenhuma prova
acessível está ?

O silêncio geral sobre esses fatos,
aos quais meu silêncio se colocava,
sinto como uma pesada mentira
e constrangimento, que coloca a punição à vista
tão logo dele se distraia;
o veredito "anti-semitismo" é familiar.

Mas agora, porque da minha terra,
que do mais antigo e próprio delito,
com o qual nada se compara,
vez por vez obtido e sob encomenda pedido,
sempre por puro negócio, apesar de
lábios rápidos declararem como reparação,
que um outro submarino para Israel
deva ser entregado, cuja especialidade
consiste em poder lançar lá
devastadoras ogivas, onde a existência
não confirmada de uma única bomba atômica,
mas que se quer ter receio da confirmação,
digo eu, o que precisa ser dito.

Mas por que silenciei até agora?
Porque eu pensei que minha origem,
afligida por máculas incorrigíveis,
proibia exigir esses fatos como pronunciada verdade,
à terra de Israel, a qual sou ligado
e quero permanecer.


Por que digo só agora,
envelhecido e com as últimas tintas:
O poder atômico de Israel arrisca
a já frágil paz mundial?
Porque precisa ser dito,
o que amanhã já pode ser tarde demais;
também porque nós - como alemães suficiente acusados -
poderíamos tornarmos fornecedores de um crime,
que é previsível, porque nossa cumplicidade
através de nenhuma das desculpas habituais
seria corrigida.


E reconhecido: não silencio mais,
porque eu da hipocrisia do Ocidente
exausto estou; ainda espera-se,
possam muitos se libertar do silêncio,
o causador de reconhecível perigo
convidar à renuncia da violência e
da mesma forma insistir,
que um controle desimpedido e permanente
do poder atômico israelense
e das localizações atômicas iranianas
através de uma instância internacional
ser permitida pelos governos das duas terras.


Esse é o único modo de ajuda a todos, 
israelenses e palestinos,
ainda mais, todas as pessoas, que vivem 
nessa região ocupada pelo delírio
de lado a lado tornada hostil
e, finalmente, também para nós.