domingo, 8 de agosto de 2010

Oh, aqueles horríveis orcs!

Essa é uma tradução um tanto apressada de uma das maiores críticas negativas sobre O Senhor dos Anéis. Escrita por ninguém menos que Edmund Wilson, escritor e um dos maiores estudiosos de James Joyce, sua resenha é marcada pela ironia, apelando bastante para o senso comum e consequentemente sem desenvolver uma argumentação muito sólida. Seu texto é demasiadamente marcado por afirmações categóricas, e eu, pessoalmente, não considero um bom trabalho de crítica, não somente por desmerecer a obra de J. R. R. Tolkien, mas por fazer isso sem expandir seus argumentos. De qualquer forma, é uma peça importante dentro da fortuna crítica tolkieniana. Publicado jornal The Nation, a versão original pode ser encontrada aqui.



14 de abril de 1956
Oh, Aqueles horríveis orcs!
Por Edmund Wilson

Em 1937, Dr. J. R. R. Tolkien, um membro de Oxford, publicou um livro para crianças chamado O Hobbit, que teve um imenso sucesso. Os Hobbits são uma raça não muito humana que habita um país imaginário chamado Condado [Shire] e que combina características de certos animais ingleses – eles vivem em tocas como coelhos e texugos – com os traços dos moradores do campo ingleses, abrangendo do rústico ao tweedy (o nome parece um engavetamento de rabbit e Hobbs.) Eles tem elfos, trolls, e anões como vizinhos, e são associados a um mágico chamado Gandalph e uma repugnante criatura aquática chamada Gollum. Dr. Tolkien ficou interessado em seu país de contos de fadas e partiu de sua pequena história para um longo romance, que apareceu, sob o título geral de O Senhor dos Anéis, em três volumes: A Sociedade do AnelAs duas Torres O Retorno do Rei. Todos os volumes são acompanhados por mapas, e o Dr. Tolkien, que é um filólogo, professor no Merton College of English Language and Literature, equipou o último volume com um aparato acadêmico de apêndices, explicando os alfabetos e gramáticas de várias línguas faladas por suas personagens, e dando genealogias completas e tabelas de cronologia histórica. Dr. Tolkien anunciou que esta sequência – a continuação hipertrófica para O Hobbit – é destinada para adultos, em vez de crianças, e ela tem tido uma retumbante recepção nas mãos de um número de críticos que são, certamente, crescidos em idade. Sr. Richard Hughes, por exemplo, escreveu que nada em tal escala tinha sido tentado desde The Faerie Queen, e que «por extensão de imaginação, ela quase ultrapassa o paralelo.»
«É estranho, você sabe,» diz srta. Naomi Mitchison, «que alguém leve isso tão a sério quanto Malory.» E Sr. C. S. Lewis, também de Oxford, é capaz de superar a todos: «Se Ariosto,» ele retumbantemente escreve, «rivaliza-o em invenção (de fato, ele não o faz), a ele faltaria ainda sua seriedade heróica.» Nem a América ficou para trás. No The Saturday Review of Literature, um Sr. Louis J. Halle, autor de um livro sobre civilização e política externa, responde como se segue a uma senhora, que «diminuindo,» ele diz, «seu pince-nez» – tinha inquirido o que ele via em Tolkien: «O que, cara senhora, esse mundo inventado tem a ver com o nosso? Você pergunta por seu significado – como você pergunta pelo significado de A Odisseia, do Genesis, de Fausto – em uma palavra? Em uma palavra, então, seu significado é 'heroismo.' Ele faz o nosso próprio mundo, mais uma vez, heróico. Que significado mais alto que este é para ser encontrado em qualquer literatura?»
Mas, se alguém for desses tributos para o próprio livro, é provável que fique decepcionado, surpreso, perplexo. O crítico leu a coisa toda para sua filha de sete anos, que passou por O Hobbit incontáveis vezes, começando-o novamente no momento em que o tinha terminado, e cujo interesse foi mantido por seus sucessores mais prolixos. É intrigante pensar, por que o autor deve ter suposto que estava escrevendo para adultos. Existem, com certeza, alguns detalhes, que são um pouco desagradáveis para um livro infantil, mas exceto quando ele está sendo pedante e também chateando o leitor adulto, há pouco em O Senhor dos Anéis acima da cabeça uma criança de sete anos. Ele é essencialmente um livro infantil – um livro infantil que, de algum modo, saiu do controle, desde então, em vez de direcioná-lo ao mercado «juvenil», o autor foi autoindulgente, desenvolvendo a fantasia por sua própria conta; e, nesse ponto deve ser dito, antes de enfatizar suas inadequações como literatura, que o Dr. Tolkien faz poucas reivindicações para seu romance de fadas. Em uma declaração preparada por seus editores, ele explicou que começou a se divertir, como um jogo filológico: a invenção de línguas é o fundamento. As 'histórias' eram feitas mais para prover um mundo para as línguas do que o contrário. «Eu preferiria escrever em 'élfico'.» Ele omitiu, ele diz, no livro impresso, uma boa quantidade da parte filológica; «mas há uma grande quantidade de matéria linguística … incluída ou mitologicamente expressa no livro. Ele é para mim, de qualquer modo, amplamente um ensaio sobre 'estética linguística,' como eu, às vezes, digo às pessoas que me perguntam 'sobre o que é tudo isso.' … Ele não é 'sobre' qualquer coisa além dele mesmo. Certamente, ele não tem intenções alegóricas, gerais, particulares ou tópicas, morais, religiosas ou políticas.» Uma história de fadas superdesenvolvida, uma curiosidade filológica – isso é, então, o que O Senhor dos Anéis realmente é. O caráter pretensioso é tudo da parte dos apaixonados admiradores do Dr. Tolkien, e são essas pretensões que eu atacaria aqui.
O mais ilustre dos admiradores de Tolkien e o mais notável de seus defensores tem sido W. H. Auden. Que Auden é um mestre do verso em língua inglesa e um bem equipado crítico de versos, ninguém, como dizem, irá discutir. É significante, então, que ele comente sobre a má qualidade dos versos de Tolkien – há uma grande quantidade de poesia em O Senhor dos Anéis. O Sr. Auden é aparentemente insensível – através da falta de interesse em outro departamento – para o fato de que a prosa de Tolkien é tão ruim quanto. Prosa e verso estão no mesmo nível de amadorismo professoral. O que eu acredito enganou o Sr. Auden é sua preocupação especial com o tema da Busca [Quest]. Ele escreveu um livro sobre a literatura de Busca; ele experimentou o tema ele mesmo em uma notável sequencia de sonetos; e é esperado que ele faça algo com isso ou até mesmo em uma escala maior. Entretanto – como às vezes acontece com trabalhos que caem no interesse de alguém – ele sem dúvida supervaloriza tanto O Senhor dos Anéis, porque ele lê nessa obra algo que ele pretenderia fazer por si mesmo. É realmente o conto de uma Busca, mas, para este crítico, uma extremamente não gratificante. O herói não tem tentações sérias; não é atraído por encantamentos traiçoeiros, desorientado por poucos problemas. O que nós temos é um simples confronto – mais ou menos nos termos do tradicional melodrama britânico – das Forças do Mal com as Forças do Bem, o vilão distante e hostil com o pequeno e corajoso herói local. Há traços de imaginação: os antigos espíritos das árvores, os Ents, com seus olhos profundos, barbas cheias de galhos, vozes rumorejantes; os elfos, cuja nobreza e beleza são indefiníveis e não completamente humanos. Mas, mesmo esses traços são desajeitadamente manejados. Nunca há muito desenvolvimento nos episódios; você simplesmente continua pegando mais da mesma coisa. O Dr. Tolkien tem pouca habilidade na narrativa e nenhum instinto para forma literária. As personagens falam uma linguagem de livros de histórias que podem ter saído de Howard Pyle, e como personalidades elas não se impõe. Ao fim do romance, eu ainda não tenho um conceito do mago Gandalph (sic), que é uma figura central, nunca sendo capaz de visualizá-lo como por inteiro. Ora, a maior parte das caracterizações, como Dr. Tolkien é capaz de conceber, são perfeitamente estereotipadas: Frodo, o bom e pequeno homem inglês; Samwise, seu servo fiel como um cachorro, que fala como classe baixa e respeitosa, e nunca abandona seu mestre. Essas personagens, que não são personagens, são envolvidas em intermináveis aventuras, cuja pobreza de invenção nelas mostradas é, parece a mim, quase patética. As Forças do Mal estão se aproximando da terra em que os hobbits, os elfos, os ents e os outros Povos Bons vivem, e eles tem que se unir para salvá-la. O herói é um hobbit chamado Frodo, que tomou posse de um anel, que Sauron, o Rei dos Inimigos, quer (essa sugestão erudita a répteis – isso não lhe dá arrepios?). Apesar da negação do autor, a luta pelo anel não parece ter uma importância maior. Esse anel, se alguém continua a carregá-lo, confere poderes especiais sobre esse alguém, mas sente-se que ele se torna cada vez mais pesado; ele manifesta uma influência sinistra sobre o outro, que ele tem de suportar a si mesmo para resistir. O problema é Frodo se ver livre dele, antes que ele sucumba a sua influência.
AGORA, esta situação realmente cria interesse; realmente parece ter possibilidades. Espera-se ansiosamente por um estranho dilema, um novo tipo de escapada por um fio, no qual Frodo, no reino do Inimigo, vai se encontrar meio seduzido a assumir o ponto de vista do inimigo, de modo que o reino de sombras e horrores chegarão a lhe parecer um lugar plausível e agradável, já que ele está dentro desse reino e é forte no poder do anel; e ele por pouco escapa do perigo de se tornar um monstro. Mas esses fantasmas [bugaboos] não são magnéticos; eles são débeis e muito enfadonhos; não se sente que eles tenham qualquer poder real. Os Povos Bons simplesmente dizem «Buu!» para eles. Existem Cavaleiros Negros, de quem todos tem medo, mas que nunca veem nada além de espectros. Há terríveis aves pairando – pense nisso, horríveis aves de rapina! Há orcs nojentos como ogros, que, entretanto, raramente chegam ao ponto de cometer qualquer ato abertamente. Há uma aranha fêmea gigante – uma terrível, rastejante e arrepiante aranha! – que vive em uma caverna escura e come pessoas. O que sentimos falta em todos esses terrores é qualquer traço de realidade concreta. O sobrenatural, para ser efetivo, deve receber algum tipo de solidez, uma presença real, características reconhecíveis – como em Gulliver, como em Gogol, como em Poe; não come aqueles horrores fantasmáticos de Algernon Blackwood, que se mostram tão frustrantes depois da substancialidade das paisagens de livros de viagem, nos quais ele os evoca. Os horrores de Tolkien são semelhantes em sua falta de contato real com suas vítimas, que se dispõe deles como fazemos com os horrores dos sonhos, simplesmente empurrando-os e soprando-os para longe. O mesmo para Sauron, o governante de Mordor (seu próprio nome não tem um som arrepiante?), que concentra em sua pessoa tudo o que está ameaçando o Condado, a sua construção atravessa os três volumes. Ele faz sua primeira, e bem promissora, aparição como um terrível e amarelo olho de fogo visto em um espelho d'água. Mas isso é o mais longe que chegamos. Uma vez que o reino de Sauron é invadido, nós pensamos que vamos encontrá-lo; mas ele ainda permanece nada além de um olho em chamas, inspecionando tudo o que acontece a partir da janela da remota torre negra. Isso pode, obviamente, ser efetivo; mas realmente não é; nós nunca sentimos o poder de Sauron. E o clímax, pelo qual nós temos sido instigados por exatamente novecentas e noventa e nove páginas grandes com letras pequenas, quando chega, mostra-se extremamente plano. O anel é, por fim, perdido por ser jogado em uma cratera de fogo, e o reino de Sauron «tomba» em um terremoto breve e banal, que põe fogo e queima tudo e assim livra o autor de contar o que exatamente havia de tão terrível lá. Frodo chega ao fim de sua demanda, mas o leitor permanece intocado pelas feridas e fadigas de sua jornada. Uma impotência de imaginação parece a mim extrair a seiva de toda a história. As guerras nunca são dinâmicas; as provações não dão a noção de esforço; as belas damas não provocariam uma palpitação; os horrores não machucariam uma mosca.
Agora, como é que esses longos volumes, que parecem a este crítico só uma embromação, evocou tanto respeito como aqueles acima? A resposta é, eu acredito, que certas pessoas – especialmente, talvez, na Grã Bretanha – tem um longo apetite por lixo juvenil. Eles não aceitariam lixo adulto, mas, confrontados com o artigo pré-adolescente, eles retrocedam à fase mental de se encantarem por Elsie Dinsmore and Little Lord Fauntleroy e que parece ter feito de Billy Bunter, na Inglaterra, quase uma figura nacional. Você pode ver isso no tom em que eles caem quando falam sobre Tolkien: eles babam, eles gritam, eles agradam; eles vão além sobre Malory e Spenser – ambos que tem uma graça e uma distinção que Tolkien jamais tocou.
Quanto a mim, se devemos ler sobre mundos imaginários, dê-me o Poictesme de James Branch Cabell. Ele, pelo menos, escreve para pessoas crescidas, e ele não apresenta o drama da vida como uma luta final entre Povos Bons e Goblins. Ele pode cobrir mais terreno em um episódio, que se mantem por apenas três páginas, do que Tolkien é capaz de em um de seus capítulos de vinte páginas, e ele pode criar uma impressão mais inquietante pela referência a alguma coisa do que Tolkien jamais descreveu através toda sua demonologia. 

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

O herói é um Hobbit por W. H. Auden


Apresento aqui uma tradução da resenha The Hero is a Hobbit escrita pelo poeta W.H. Auden e publicada em 31 de outubro de 1954 no jornal The New York Times. O texto original pode ser encontrado aqui.


31 de outubro de 1954
O herói é um Hobbit
por W. H. Auden

Dezessete anos atrás apareceu, com pouco alvoroço, um livro chamado O Hobbit, que, na minha opinião, é uma das melhores histórias para crianças desse século. Em A Sociedade do Anel, que é o primeiro volume da trilogia, J. R. R. Tolkien continua a imaginativa história do mundo imaginário, ao qual ele nos apresentou em seu livro mais antigo, mas em um modo adaptado aos adultos, para aqueles, a saber, entre as idades de 12 e 70 anos. Para qualquer um que goste do gênero ao qual ele pertence, a Busca Heróica*, eu não posso imaginar um presente de Natal mais maravilhoso. Todas as buscas são relacionadas a algum objeto mágico, as Águas da Vida, o Graal, um tesouro enterrado etc; normalmente é um Objeto bom, o qual é tarefa do herói encontrar ou resgatar do Inimigo, mas o Anel da história do Sr. Tolkien foi feito pelo Inimigo e é tão perigoso que até mesmo os bons não podem usá-lo sem que sejam corrompidos.

O Inimigo acreditava que ele estava perdido para sempre, mas descobriu que ele tinha chegado providencialmente às mãos do Herói e está empregando todos os seus poderes demônicos para sua recuperação, que lhe daria a dominação do mundo. O único modo de tornar certa a sua derrota é destruir o Anel, mas isso só pode ser feito de uma forma e em um lugar, que fica no coração da região [inimiga]; a tarefa do Herói, portanto, é levar o Anel, sem ser pego, ao lugar em que ele possa ser desfeito.

O herói, Frodo Bolseiro, pertence a uma raça de seres chamada hobbits, que pode ter somente três pés de altura; têm pés peludos e prefere viver em casas subterrâneas, mas em seu pensamento e sensibilidade são muito parecidos com aqueles rústicos árcades que habitam tantas histórias de detetives britânicas. Eu penso que alguns leitores podem achar o capítulo de abertura um pouco vergonhoso, mas eles não se devem permitir desistir, pois, uma vez que a história se põe em movimento, essa comicidade inicial desaparece.

Por mais de mil anos, os hobbits tiveram uma existência pacífica em um distrito fértil chamado o Condado [Shire], indiferentes ao mundo exterior. Realmente, esse último é bem sinistro; cidades caíram em ruínas, estradas em mau estado, campos férteis retornaram ao estado selvagem, rondam feras selvagens e seres malignos, e viajar é difícil e perigoso. Além dos Hobbits, há Elfos, que são sábios e bons; Anões, que são habilidosos e bons, como um todo; e Homens, alguns guerreiros, alguns magos, que são bons ou maus. A presente incarnação do Inimigo é Sauron, Senhor de Barad-Dur, a Torre Negra na Terra de Mordor. Ao seu lado estão os Orcs, lobos e outras criaturas horrendas e, claro, tantos homens quanto são atraídos ou subjugados por seu poder. A paisagem, o clima e a atmosfera são aquelas do norte, reminiscentes das sagas islandesas.

A primeira coisa que se exige é que a aventura deva ser variada e excitante; a esse respeito, a criação de Sr. Tolkien é firma, e, em um nível primitivo de querer saber o que acontece em seguida, “A sociedade do Anel” é pelo menos tão boa quanto “The Thirty-Nine Steps.” De qualquer mundo imaginário, o leitor demanda que ele pareça real, e o padrão de realismo exigido hoje em dia é muito mais estrito do que no tempo, digamos, de Malory. O Sr. Tolkien é agraciado por possuir um surpreendente dom para dar nomes e um olho maravilhosamente exato para descrições; no momento em que alguém termina seu livro, ele sabe as histórias dos Hobbits, dos Elfos e dos Anões, e a paisagem que eles habitam, tão bem quando sabe de sua própria infância.

Finalmente, se alguém tomar um conto desse tipo seriamente, deverá sentir que, embora superficialmente diferente do mundo em que vivemos, em como suas personagens e eventos podem ser, ele, não obstante, segura um espelho para a única natureza que conhecemos, a nossa própria; nisso, também, o Sr. Tolkien teve um magnífico sucesso, e o que aconteceu no ano do Condado de 1418, na Terceira Era da Terra-Média, não é apenas fascinante em 1945, mas também um aviso e uma inspiração. Nenhuma ficção que eu tenha lido nos últimos cinco anos me deu maior alegria que “A Sociedade do Anel”.

O trabalho poético mais recente do Sr. Auden é “Nones”.

*Busca Heróica: original é Heroic Quest, creio que ainda não haja, em português, um termo equivalente específico dentro da teoria da literatura.

sábado, 8 de maio de 2010

Uma parábola por Owen Barfield

Essa é uma breve parábola escrita por Owen Barfield no livro Poetic Diction, sobre as teorias empiristas e idealistas do conhecimento.

Era uma vez um automóvel muito grande chamado Universo. Embora não existisse ninguém que não estivesse a bordo, ninguém sabia como ele funcionava ou como operá-lo, e no correr do tempo dois problemas bem diferentes ocuparam a atenção de dois grupos diferentes de passageiros. O primeiro grupo ficou interessado em coisas invisíveis como combustão interna; mas o segundo grupo disse que a coisa a se fazer era empurrar e puxar as alavancas e descobrir por tentativa e erro o que acontecia. As palavras 'combustão interna', eles diziam, eram obviamente sem sentido, porque ninguém nunca havia empurrado ou puxado qualquer dessas coisas. Por um tempo ambos os grupos concordaram que o conhecimento de como aquilo funcionava e o conhecimento de como operar aquilo eram intimamente conectados um com o outro, mas, no fim, o segundo grupo começou a sustentar que o primeiro tipo de conhecimento era uma ilusão baseada no mal entendimento da linguagem. Empurrar, puxar e ver o que acontece, eles diziam, não eram meios para o conhecimento; eles eram conhecimento. Esse era um estranho tipo de carro, porque, depois que o segundo grupo tinha, com evidente e gratificante sucesso, tentado empurrar e puxar todas as alavancas grandes, eles começaram com algumas das menores, e o carro era construído de tal forma que quase todas elas, qualquer que fosse outro efeito que tivessem, agiam como aceleradores. Enquanto isso, o primeiro grupo segurava sua respiração e começava a pensar que seu tipo de conhecimento podia talvez ser útil após o desastre.


BARFIELD, Owen. Poetic Diction: a study in meaning. Middletown: Wesleyan University Press, 1973. p. 23-24

Se gostou, leia aqui a tradução do "Prefácio" por Howard Nemerov, a essa mesma edição publicada nos E.U.A. 

segunda-feira, 8 de março de 2010

“Nós deveríamos ocupar os Ministérios”

Publicado originalmente no jornal on-line Die Zeit, em 16 de junho de 2009, o texto pode ser acessado através do endereço: http://www.zeit.de/online/2009/25/denker-statt-banker

Na foto abaixo, os estudantes mostram um cartaz escrito: Pais ricos para todos.



Universitários bloqueiam Institutos e ruas: começa em Berlim a greve pela educação em todas as universidades
Por Günter Bartsch, Tina Rohowski e Tilmann Warnecke

Às portas do Instituto Otto-Suhr (OSI) da Universidade Livre em Dahlem, correntes, mesas e cadeiras empilhadas impediam a entrada. “A dialética de Adorno não suporta essa correria” dizia uma faixa, pendurada do lado de fora do prédio do Instituto. “Hoje, sem força e poder” dizia outra. Mais de 150 universitários e funcionários protestaram e discutiram ontem por volta do meio dia em frente ao Instituto. O OSI está bloqueado – os estudantes se manifestam contra o que consideram condições miseráveis no ensino superior.

Na última segunda-feira [15 de junho] em todas as universidades de Berlim houve protestos para a abertura nacional da “Greve pela educação 2009”. Na Universidade Tecnológica, os universitários ocuparam o prédio da Arquitetura e, após uma assembleia geral marcharam para o
Tauentzien, onde várias centenas foram barrados pela polícia. A manifestação se formou novamente na Straße des 17. Juni e chegou, no início da noite a Unter den Linden. Os cientistas sociais da Universidade Humbolt (HU) decidiram, ao meio dia, interromper suas atividades de ensino normais e retirar seus móveis para o meio da Universitätstraße. Era possível ler em cartazes: “A elite já era merda quando criança” ou “180 Milhões de Euros são o mínimo” - uma alusão às discussões sobre o ensino superior, nas quais as universidades reivindicavam essa soma adicional.

Ontem, universitários de todo país protestaram em 60 cidades. Em Hamburgo, eles bloquearam ruas; em Munique, acamparam em barracas em frente à Universidade Ludwig-Maximilian. Durante toda a semana, universitários e estudantes quiseram protestar no contexto da “Greve pela educação 2009”. O porta-voz dos estudantes da Universidade Humbolt, Tobias Roßmann, citou como principal exigência a reforma do sistema de bacharelado e mestrado. As cargas de trabalho seriam muito altas; os cursos superiores seriam muito autoritários e fechados; e o sistema de ensino na Alemanha, no todo, socialmente seletivo.

Quem quisesse entrar, ontem, no prédio da Arquitetura da Universidade Tecnológica deveria apresentar a identificação de estudante ou funcionário. Os postos de greve deixaram passar apenas cientistas – e estudantes deveriam fazer testes ou devolver livros. “Os funcionários aceitam nosso protesto, mas não o apoiam. Esse é um problema.” - diz o ativista Joshua (28). Em todas as entradas houveram violentas discussões entre os manifestantes e outros universitários, porém os postos de greve permaneceram firmes.

Na assembleia geral dos estudantes na Audimax também foi contestado o quão razoável são os bloqueios aos prédios da universidade. Entretanto, as cerca de 1200 pessoas de outras cidades, que superlotaram o salão, aclamaram. Porém, quem recebeu a maioria dos aplausos foi uma estudante que disse: “Nós precisamos ir para lá, onde a política é feita – nós deveríamos ocupar os ministérios, ir à frente do
Reichstag [Parlamento] e da Rotes Rathaus [Prefeitura Vermelha – nome dado à prefeitura de Berlim]”. Extraordinárias são as referências da Audimax à crise financeira. Na parede do auditório estava pendurado um cartaz com a inscrição: “Bacharel e banqueiro em vez de poeta e pensador”.

A algumas centenas de metros do OSI, etnólogos da FU acamparam e queriam permanecer por toda a noite. “Nós queremos discutir com os professores essa semana” - eles disseram. As frequentes trocas de pessoal impediriam uma boa orientação, a eles também faria falta um Café de Estudantes. Além disso, muitos docentes também sofreriam com a escassez financeira: cargos mal pagos de professor preocupam muitos cientistas da nova geração com más condições de vida. Contudo, muitos estudantes esfriaram o protesto: um punhado dos grevistas da OSI partiu em direção ao metrô da
Thielplatz para tomar o caminho de casa. No “centro da greve” também há pouco ainda a ser notado. Uma sala de aula está ocupada – à parte disso corre tudo normalmente.

No pátio interno da HU, durante a manhã, universitários penduraram suas reivindicações em um “Muro das Lamentações” simbólico. “Mais livros para as bibliotecas” - estava escrito em um papelzinho; “Presença deve ser facultativa”, “Docentes engajados” ou “Antes era tudo melhor”. De uma caixa de som em um balcão de informações soava uma música alta: “Bom dia, esta é a revolução” cantava a banda
Wir sind Helden [Nós somos Heróis] – um clássico, que já na grande greve pela educação de 2003 valia como um hino não oficial. Todavia, a atmosfera de protesto se mantinha dentro dos limites do pátio interno da HU. Apenas poucos estudantes são vistos. Durante a tarde, quando os protestantes soltaram balões no ar com suas reivindicações, a polícia recolheu informações dos estudantes e os dados pessoais de alguns dos participantes.

A direção da universidade, por enquanto, reage tranquilamente à ocupação. “Nós não vamos desocupar” - diz uma porta-voz da Universidade Humbolt, onde universitários qualificam o quarto andar do prédio na
Hegelplatz como um “Espaço livre para discussão crítica sobre educação”. E todos os presidentes recomendam dispensar os alunos e funcionários para a manifestação de quarta-feira em frente à Rotes Rathaus.

Para quinta-feira, os ativistas chamam para uma “Ação assalto a banco”. Assim, os universitários querem ocupar a filial do Hypo Real Estate Bank no
Charlottenburg, em Berlin. Esta seria uma “ação simbólica, da qual todos os cidadãos deveriam participar” - diz Martin Schmalzbauer do Bündnis [Partido Verde alemão], “Nós não pagaremos por sua crise” e, resignado, “Nós precisamos de mais agitação social na Alemanha”. Os pacotes bilionários para os bancos tinham mostrado “que lá tinha dinheiro suficiente para todos”. Um pacote de salvação para a educação custaria apenas uma fração do dinheiro que foi dado para os bancos.

domingo, 7 de março de 2010

Der neuere (glücklichere) Werther - O mais novo (mais feliz) Werther

Der neuere (glücklichere) Werther
(Heinrich von Kleist)

Zu L..e in Frankreich war ein junger Kaufmannsdiener, Charles C..., der die Frau seines Prinzipals, eines reichen aber bejahrten Kaufmanns, namens D..., heimlich liebte. Tugendhaft und rechtschaffen, wie er die Frau kannte, machte er nicht den mindesten Versuch, ihre Gegenliebe zu erhalten: um so weniger, da er durch manche Bande der Dankbarkeit und Ehrfurcht an seinen Prinzipal geknüpft war. Die Frau, welche mit seinem Zustande, der seiner Gesundheit nachteilig zu werden drohte, Mitleiden hatte, forderte ihren Mann, unter mancherlei Vorwand auf, ihn aus dem Hause zu entfernen; der Mann schob eine Reise, zu welcher er ihn bestimmt hatte, von Tage zu Tage auf, und erklärte endlich ganz und gar, daß er ihn in seinem Kontor nicht entbehren könne. Einst machte Herr D..., mit seiner Frau, eine Reise zu einem Freunde, aufs Land; er ließ den jungen C..., um die Geschäfte der Handlung zu führen, im Hause zurück. Abends, da schon alles schläft, macht sich der junge Mann, von welchen Empfindungen getrieben, weiß ich nicht, auf, um noch einen Spaziergang durch den Garten zu machen. Er kömmt bei dem Schlafzimmer der teuern Frau vorbei, er steht still, er legt die Hand an die Klinke, er öffnet das Zimmer: das Herz schwillt ihm bei dem Anblick des Bettes, in welchem sie zu ruhen pflegt, empor, und kurz, er begeht, nach manchen Kämpfen mit sich selbst, die Torheit, weil es doch niemand sieht, und zieht sich aus und legt sich hinein. Nachts, da er schon mehrere Stunden, sanft und ruhig geschlafen, kommt, aus irgend einem besonderen Grunde, der, hier anzugeben, gleichgültig ist, das Ehepaar unerwartet nach Hause zurück; und da der alte Herr mit seiner Frau ins Schlafzimmer tritt, finden sie den jungen C..., der sich, von dem Geräusch, das sie verursachen, aufgeschreckt, halb im Bette, erhebt. Scham und Verwirrung, bei diesem Anblick, ergreifen ihn; und während das Ehepaar betroffen umkehrt, und wieder in das Nebenzimmer, aus dem sie gekommen waren, verschwindet, steht er auf, und zieht sich an; er schleicht, seines Lebens müde, in sein Zimmer, schreibt einen kurzen Brief, in welchem er den Vorfall erklärt, an die Frau, und schießt sich mit einem Pistol, das an der Wand hängt, in die Brust. Hier scheint die Geschichte seines Lebens aus; und gleichwohl (sonderbar genug) fängt sie hier erst allererst an. Denn statt ihn, den Jüngling, auf den er gemünzt war, zu töten, zog der Schuß dem alten Herrn, – der in dem Nebenzimmer befindlich war, den Schlagfluß zu: Herr D... verschied wenige Stunden darauf, ohne daß die Kunst aller Ärzte, die man herbeigerufen, imstande gewesen wäre, ihn zu retten. Fünf Tage nachher, da Herr D... schon längst begraben war, erwachte der junge C..., dem der Schuß, aber nicht lebensgefährlich, durch die Lunge gegangen war: und wer beschreibt wohl – wie soll ich sagen, seinen Schmerz oder seine Freude? als er erfuhr, was vorgefallen war, und sich in den Armen der lieben Frau befand, um derentwillen er sich den Tod hatte geben wollen! Nach Verlauf eines Jahres heiratete ihn die Frau; und beide lebten noch im Jahr 1801, wo ihre Familie bereits, wie ein Bekannter erzählt, aus 13 Kindern bestand.


O mais novo (mais feliz) Werther
(Heinrich von Kleist)
Em L...e, na França, havia um jovem funcionário de um comerciante, Charles C..., que secretamente amava a mulher de seu patrão, um homem de negócios rico, mas idoso, chamado D... . Virtuosa e honesta, como ele a conhecia, não fazia a menor tentativa de ganhar sua simpatia; e ainda menos, pois estava amarrado ao seu patrão por laços de gratidão e respeito. A mulher, que por compaixão ao seu estado de saúde que ameaçava piorar, pediu ao marido, sob vários pretextos, para que se afastasse de casa; o marido adiava a viagem, para a qual se designara, dia após dia; e finalmente esclarecia bem, que não podia se dispensar de seus negócios. Depois de um bom tempo, o Senhor D... e sua esposa viajaram para a casa de um amigo, nos campos, deixando para trás, o jovem C..., para conduzir os negócios de sua loja. À noite, quando todos já dormem, o jovem – movido por quais sentimentos eu não sei –, sai para dar ainda mais um passeio no jardim. Ele passa pelo quarto de dormir da cara esposa e para, quieto; coloca a mão na maçaneta; abre o quarto: o coração quase lhe sai pela boca à vista da cama, na qual ela costumava descansar. Depois de alguma luta consigo mesmo, ele comete a tolice; porque certamente ninguém o observava, despe-se e deita na cama. De madrugada, depois que ele já havia dormido por várias horas em paz e tranquilidade, por qualquer motivo que aqui não nos importa, o casal inesperadamente volta à casa; e, quando o velho senhor com sua esposa entram no quarto, eles encontram o jovem C..., já meio erguido da cama, alarmado com o barulho que seus senhores provocaram. Vergonha e perplexidade se apoderam dele. E quando o casal desconcertado volta e desaparece novamente no cômodo pelo qual eles haviam chegado, ele se levanta e se veste. Vai furtivamente até o seu quarto, cansado de sua vida, e escreve uma breve carta para a mulher, na qual esclarece o incidente; e, com a pistola que ficava pendurada na parede, atira contra o próprio peito. Aqui termina a história de sua vida; mas, todavia (estranho o suficiente) só aqui ela começa de fato. Pois, em vez dele, o jovem, que considerava valioso demais para matar, o tiro veio a atingir o velho Senhor, que se encontrava no quarto ao lado, provocando-lhe um derrame: o senhor D... morreu em poucas horas, sem que a arte de todos os médicos, que foram chamados, fosse capaz de salvá-lo. Cinco dias depois, quando o senhor D... já estava bem enterrado, o jovem acordou – o tiro havia lhe atravessado o pulmão, porém sem risco de vida. E quem descreve perfeitamente – como devo dizer, sua dor ou sua alegria? – quando ele descobriu o que tinha acontecido e que se encontrava nos braços de sua amada, pelos quais ele quis se entregar à morte! No decorrer de uns anos, ele se casou com a mulher; e ambos ainda viviam, no ano de 1801, quando sua família já contava com treze filhos, como um conhecido relata.

sábado, 6 de março de 2010

Das Pferdeei - O ovo de cavalo


Essa é mais uma de tradução de uma anedota alemã. Desta vez é um texto de autor desconhecido chamado Das Pferdeei ou O ovo de cavalo.


Das Pferdeei
(Verfasser unbekannt)
Es war einmal ein Bauer, der hieß Hans, der ging in die Stadt zu Markte. Und als er da so herumschlenderte, sah er einen Händler sitzen, der hatte ein paar große Kürbisse zu verkaufen. Da fragte er ihn: "Bruder, was sind das für Dinger, die du da zu Markte gebracht?" - "Pferdeeier" antwortete der andere. "Ei, du liebe Zeit!", sagte Hans, "Pferdeeier? Die sind wohl sehr teuer?" - "Nun, bezahlen lassen sie sich noch", sprach jener, "sieh mal hier das rotbraune, das gibt einen prächtigen Fuchs und kostet nur zehn Taler!" Das dünkte Hans nicht allzu viel für einen schönen Fuchs - und schnell borgte er das Geld und kehrte zu dem Händler zurück.
Nun wollte er aber auch gern wissen, wie das Ei ausgebrütet werde; und der andere sagte ihm, er müsse es selbst ausbrüten. Und es dauere volle vier Wochen, bis ein Fohlen herauskäme! Während dieser Zeit dürfe er ja nicht von dem Ei aufstehen - und wenn er's einmal müsse, so möge er's ja recht warm zudecken. Auch solle er sich lieber die ganze Zeit von seiner Frau füttern lassen, damit er eine recht hitzige Brut habe.
Hans prägte sich alles ganz genau ein und eilte nun mit seinem Pferdeei nach Hause, wo er seiner Frau mit großer Freude erzählte, was für einen schönen Handel er gemacht habe. Er konnte kaum die Zeit erwarten, bis sie ihm das Nest zurechtgemacht hatte. Nachdem sie nun ein Bund Stroh im Stall ausgebreitet und in der Mitte eine Vertiefung für das Ei gemacht hatte, setzte sich Hans darauf - und seine Frau musste ihn füttern und noch einige Bund Stroh um ihn schütten, damit er auch eine hitzige Brut hätte.
Als nun endlich die vierte Woche zu Ende ging, da sprang Hans plötzlich auf und horchte an dem Ei und klopfte daran; aber der Fuchs wollte sich nicht rühren. Da konnte er seine Ungeduld nicht länger zügeln. Er nahm das Ei und ging damit hinters Haus, wo ein großer Stein lag, gegen den war er es. Und da der Kürbis innen schon ganz faul war, flogen die Stücke weit umher.
Und eins davon fiel in ein nahes Gesträuch, hinter dem gerade ein Fuchs lag und schlief. Der sprang auf und lief eilig davon. Da glaubte Hans, es sei sein rotes Fohlen und er rief immerzu: "Hiß, hiß!" Er meinte, wann's müde ist, wird's schon zurückkommen; aber es kam nicht. Hans ging endlich betrübt wieder ins Haus und nahm sich vor, wenn er wieder ein Pferdeei kaufe, hübsch im Stall zu bleiben, damit sein Fehlen nicht entwischen könne.

O Ovo de Cavalo
(Autor desconhecido)
Era uma vez um agricultor chamado Hans, que ia para a cidade, ao mercado. E, quando ele passeava por ali, viu um negociante sentado, que tinha algumas grandes abóboras para vender. Então ele perguntou:
- Compadre, que tipo de coisa é essa aí que você trouxe pr'o mercado?
- Ovos de cavalo – respondeu o outro.
- Ai, que tempos! - disse Hans. - Ovos de cavalo? Eles devem ser bem caros?
- Ora, eles ainda pagam a si próprios – falou o outro. - Olhe só esse marrom avermelhado aqui, ele dá um esplendoroso cavalo de pelos marrom avermelhados e custa apenas dez táleres!
Para Hans, isto não pareceu muito por um belo alazão – e rapidamente ele foi tomar emprestado um dinheiro e voltou ao negociante.
Agora, ele queria saber também como o ovo era chocado, e o outro lhe disse que ele mesmo deveria chocar. E isso levaria quatro semanas inteiras até que viesse um potrinho! Durante esse tempo ele não poderia levantar do ovo, e se alguma vez precisasse, deveria deixá-lo bem coberto e aquecido. Ele também deveria, de preferência, deixar-se alimentar por sua mulher por todo o tempo, para que ele chocasse corretamente.
Hans memorizou tudo minuciosamente e correu com seu ovo de cavalo para casa, onde ele contou à esposa com grande alegria que belo negócio tinha feito. Mal podia esperar até que ela tivesse lhe preparado um ninho. Depois que ela espalhou um fardo de palha no estábulo e fez uma cova no meio para o ovo, Hans se sentou sobre ele – e sua esposa deveria alimentá-lo e ainda despejar em volta mais alguns fardos de palha, para que o ovo se aquecesse corretamente.
Quando finalmente a quarta semana chegou ao fim, Hans se levantou imediatamente, escutando o ovo e batendo sobre ele; mas o alazão não queria se mexer. Então ele não conseguiu mais dominar sua impaciência. Pegou o ovo e foi para trás da casa, onde havia uma grande pedra, contra a qual o bateu. E como a abóbora já estava bem podre por dentro, seus pedaços voaram para todo o lado.
E um deles caiu em um arbusto próximo, justamente atrás do qual havia um alazão adormecido. Ele se levantou de um salto e correu rapidamente de lá. Então Hans acreditou que aquele era o seu filhote e gritou sem parar: “Hei! Hei!” E pensou que, quando o cavalinho estivesse cansado, voltaria; mas não voltou. Hans, finalmente, voltou entristecido para casa e propôs-se que, quando ele comprasse um ovo de cavalo de novo, ficaria direitinho no estábulo, para que seu erro não pudesse se repetir.

Anekdote/Anedota - Heinrich von Kleist

Essa é de uma anedota escrita por Heinrich von Kleist (1777-1811).

Anekdote
Ein Kapuziner begleitete einen Schwaben bei sehr regnichtem Wetter zum Galgen. Der Verurteilte klagte unterwegs mehrmal zu Gott, daß er, bei so schlechtem und unfreundlichem Wetter, einen so sauren Gang tun müsse. Der Kapuziner wollte ihn christlich trösten und sagte: du Lump, was klagst du viel, du brauchst doch bloß hinzugehen, ich aber muß, bei diesem Wetter, wieder zurück, denselben Weg. – Wer es empfunden hat, wie öde einem, auch selbst an einem schönen Tage, der Rückweg vom Richtplatz wird, der wird den Ausspruch des Kapuziners nicht so dumm finden.

Anedota
Debaixo de um tempo muito chuvoso, um capuchinho acompanhava um suábio para a forca. Pelo caminho, o condenado reclamava para Deus, repetidas vezes, que ele devia percorrer um caminho tão amargo, debaixo de um tempo tão ruim e hostil. O capuchinho, que queria consolá-lo de maneira cristã, disse: Seu patife, por que reclama tanto? Você só precisa percorrer o caminho de ida. Mas eu, sob esse tempo, ainda tenho que voltar por esse mesmo caminho. - Quem considerar, como o caminho de volta era desolado, mesmo em um dia bonito, não achará o comentário do capuchinho tão tolo.